on quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Só sou o que sou
 Longe do parecer 
De toda longa insistência
 Do que pareço ser.

 Na medida que apaga a vela
 O escuro conta as horas 
Talvez se acabem as velas 
Antes do escuro ir embora.
 
Nisto 
Insisto 
Visto 
Isto 
Como tudo 
Que foi visto.

Se todo Carlos fosse Drummond 
Ainda assim eu não seria poeta 
Mas tenho feito tanto das próprias mãos 
Que traria nelas minhas próprias pedras. 

 Quem dera passasse agora 
Na minha rua algum bombeiro, 
Corre enquanto o mundo 
Queima na borda do meu cinzeiro. 

Corre a moça bonita 
Quando vê  
Lá embaixo 
O amado 
Chegar.  
Corre o relogio no braço 
Quando vê o amor 
Quer logo 
Atrapalhar.  
Corre os olhos do moço 
Para as moças na rua  
Que estão 
A passar. 
Vem o passo 
O abraço 
Só não vejo 
a luz
Voltar.  

Da varanda vejo o céu 
Um bar, uma igreja, outro bar 
Vejo pouco no escuro 
Bastante pra descansar 
As vistas em toda sombra 
Espalhada em todo ar. 
Mas continua o casal 
Incessante a se beijar. 

Enquanto passa moto 
Um carro pisca farol 
Alguém desce pro centro 
Ou sobe pra favela 
Alguns voltam pra casa 
Ou indo matar saudade.
Tenho o azar de meu amor
Ter nascido noutro canto
Dessa maldita cidade. 
 
Cala tudo  
E ate parece madrugada, 
Eu penso em dormir 
E pensando seriamente, 
Se essa noite sonho vir 
Quero que seja da gente 
Que sonha existir 
Praquele pouco de gente 
Que não nos vê por aqui.

Quem vem de lá
De onde a lua bate contra
Talvez não vá me enxergar
Como também não fará com as plantas
Que postas sob o telhado
Observam assim como eu
Quem passa e quem tem passado
Pela rua tomada no breu.


E a lua brilha,
hoje não precisa rima,
Eu só queria escrever
Enquanto a luz não volta
Volto pra cama quente
Largo a varanda fria.

on domingo, 12 de agosto de 2012

Ainda dá tempo de você fugir
Sair por aí e não me procurar
Abrir os braços, me deixar partir
Fechar os olhos pra não me achar.

Ainda dá tempo de você correr
viver pros amigos e caras legais
E deles ouvir o que vai te entreter,
Beijo, carinho, alguma coisa mais.

Dá pra sonhar com os caras da revista
Seu cantor favorito, algum outro artista.

Alguem que saiba mais que eu
Alguem com gosto igual ao teu
Alguem que sempre prometeu
Um amor bem mais forte que o meu.

Ainda dá tempo de acreditar
Que o que eu te prometo
Não vai te saciar
Ainda dá tempo de você notar
Que o que eu esqueço
Outro vai lembrar.

Mas se nada disso for o que procura
Dá tempo de ver que eu estou aqui
E se eu te pedir, você será que jura
Me dar todo tempo pra te fazer sorrir?

Meu tempo que é seu, já não me deixa em paz
Uma hora demora, outras tanto faz
Quando eu quero que dure, ele corre mais
Se descanço um pouco, ele me deixa pra traz
Se te espero um minuto, meu tempo dura horas
Se te quero um segundo, esse segundo demora.

on quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Só entra. Sei que aí dentro tem
Alguma coisa que tá te esperando
E sei que no meio da bagunça
Tu encontra o que tá procurando.

Passa um pano, tira o pó
O que ta pendurado tu desata o nó
Deixa sair o que tá preso há dias
Dá um jeito de encher tudo de alegria.

A casa já tá cheia de móveis antigos
As fotos na parede, meu primeiro livro
Um sorriso dos meus pais, o disco preferido.

Mas arruma seu espaço e depois fecha a porta
Eu sempre fui tão cheio, não vai se incomodar
Eu tô te convidando é pra me transbordar.
on sábado, 12 de novembro de 2011
Me pressionava sobre uma cadeira preta de courvin
E permanecera sobre mim com olhos entreabertos,
Tinha sobre o corpo um vestido cor bonina feito de cetim
Que fiz questão de destruir pra ter seu corpo descoberto.

O rogo pra que eu passe outra noite em teu colchão,
O chá que fui buscar só pra te ver cerrar os olhos
E assistir você dormir enquanto ria sem razão
Da confusão que eu fiz só pra tentar te ter no colo.

Te cobri com o lençol e encostei de leve a porta
Me enrolei com um cachecol como se escondesse a face
Passei pelas escadas com a cabeça dando voltas
E me vi fora do prédio antes que o medo me tomasse.

Procurando em quem pensar pra não pensar em quem queria
Pensando em não querer pra não querer quem não devia
Mas há de ser, se julgas certo, sofredor sem ter por perto
Quem te fez felicidade sem angústia da saudade. 
on quinta-feira, 15 de setembro de 2011
O que tiver de ser, será,
Pois se não for,
O que há de se fazer
Se longe do que se quer
Os pés não pisam o chão,
A voz é som longe da atenção,
Ecoa sem chegar aonde deveria,
Tudo que se vê, quando se vê,
É de uma vista turva.
E até onde possa ir
Não é até onde queira chegar,
Deixa a desejar todo sucesso
Que não se tem o que comemorar.
O pessimismo é prova de fé
E a fé prova que falta algo,
Não se espera quando se tem
E não se tem se não se é,
Não ter o que é meu
Sem antes ser eu,
É mais do que justo
Ter pra si
Apenas oque possa aguentar,
Ter da vida
Apenas oque possa te orgulhar.
O que tiver de ser será,
Pois se não for,
O que há de ser
Se não apenas ser?
on sábado, 23 de julho de 2011
O ultimo poeta sou eu
E só meus versos tem sinceridade
Só meus amores tem essa vantagem
Serem lembranças da breve eternidade

O ultimo romantico sou eu
Dos que se sentem na epoca errada
E que vão sempre preferir as cartas
E ainda assumem chorar por amor

O erro que causa a derrota é meu
O grito de quem foi ferido
A traição do seu melhor amigo
E a cabeça baixa de quem assume a culpa.

Quem sente falta das palavras sou eu
E mil palavras valem tanto quanto uma atitude
Só depende de como são ditas
Só depende pra quem são escritas

O ultimo sonhador sou eu
Mesmo achando que os sonhos são perca de tempo
É que sonhar não basta
Mas é como um projeto, planejando meus atos.

O ultimo héroi sou eu
E daria minha vida por quem não sabe quem sou
Ter medo dos seus proprios problemas
Mas se sacrificar pelos problemas de alguem

O unico a lembrar sou eu
E o mundo de coisas que é triste esquecer
Recordar, e sozinho querer reviver
Aquilo tudo que não era só meu

O ultimo sentimento de vergonha é meu
O vermelho no rosto com um sorriso de timidez
A cabeça baixa, os olhos perdidos
E as palavras que não saem, mais uma vez

O maior egoísta sou eu
E ainda insisto em dizer que nunca tive nada
Quero ter comigo até quem não mereço
E olha que nem sei o que é merecimento

O ultimo a ser meu sou eu
Sou sempre alguma coisa pra qualquer pessoa
Mas nunca sei quem sou se o caso é ser alguem
Tem sempre que ser algo ao inves de apenas ser.

...
on sexta-feira, 22 de julho de 2011
A sociedade calada, a igreja tombada, a casa abandonada
O parque em que brincava, a escola em que estudava
A parede pintada, a rua asfaltada, a bola furada
O violão em que ensaiava, a fita cassete que não pegava
A fogueira apagada, a calça rasgada, a calçada ocupada
O io-io que não rodava, o banquinho em que se sentava
A revistinha rasgada, a meia furada, a casa encerada
A amoreira que amora não dava, a bicicleta em que pedalava
A lampada quebrada, a luz apagada, a noite estrelada
Todos deixaram para trás as memorias, menos eu.